Aulas Remotas, covid-19 e produção de conhecimento
- lavinicastro
- 6 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de ago. de 2020
Recentemente, em aula on-line com meus alunos do Ensino Médio, senti a necessidade de ouvi-los sobre o cotidiano da quarentena e sobre aulas remotas. Sou professora de História e o tema da aula era 1ªGM. Em minhas aulas procuro manter sempre um diálogo com as/os alunas/os para permitir evidenciar e potencializar sua voz diante do assunto discutido trazendo sempre para reflexões com a realidade atual. Naquele dia foi necessário trazer à pauta da aula a covid-19 e formato de aula on-line/remota.
Uma das alunas sinalizou o desconforto com aquele formato de aula, e foi unânime, após sua fala, outr@s alun@s afirmaram a mesma sensação. A aluna que iniciou a pauta continuou dizendo que estava sentindo da falta do contato, que daquele jeito não sabia se estava realmente aprendendo, enfim desabafou. Eu pensei imediatamente sobre a importância da educação “olho no olho”, do estar presente no chão da escola. Eles me perguntaram o que eu estava sentindo em relação a tudo o que a escola estava passando diante deste contexto, eu parei em silêncio, pouquíssimos instantes, me solidarizei com a fala da aluna e aproveitei para refletir junto com elas e eles sobre a imprevisibilidade do momento e o quanto precisamos entender que o conhecimento, ou melhor a produção de conhecimento é próprio daquele que busca conhecer estando ou não em condições de quarentena.
A aula tomou seu próprio rumo porque planejamento é isso, planejar não é engessar uma ideia de aula. Planejar é estabelecer uma programação, porém os planejamentos são um possível caminho para conduzir a aula sendo reajustado sempre que necessário. Thomazi nos ajuda a pensar melhor sobre planejamentos de aula e currículos quando citar uma passagem de Padilha (2001)
Lembramos que realizar planos e planejamentos educacionais e escolares significa exercer uma atividade engajada, intencional, científica, de caráter político e ideológico e isento de neutralidade. Planejar, em sentido amplo, é um processo que visa dar respostas a um problema, através do estabelecimento de fins e meios que apontem para a sua superação, para atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas sem desconsiderar as condições do presente e as experiências do passado, levando-se em conta os contextos e os pressupostos filosófico, cultural, econômico e político de quem planeja e de com quem se planeja. (Padilha, 2001, p. 63 apud Thomazi, 2009, p.182)
Nesse sentido é imprescindível estar atento a pequenos ajustes, pausas, acelerações, ou retomada de assuntos não compreendidos pelas/os alunas/os.
Assim foi feito, refletimos sobre a conscientização em tempos de covid-19, os privilégios de classe e raça daqueles que podem exercer o direito ao isolamento social, a nova ordem social e cultural estabelecida (aqui me lembrei da Graduação e minhas leituras de Certeau (rsrs) porque diante à pandemia o cotidiano se reinventa.
O enclausuramento forçado pela pandemia gerou algo que pode soar contraditório, pois ao nos aproximou da vida online nos afastou da racionalidade ordinária inventada na modernidade, melhor dizendo o estar presente hoje requer mais vontade e dedicação do que anteriormente, então pude refletir sobre as/os alunas/os que acessam a aula on-line e fecham a câmera e o áudio e ficam fazendo outras coisas e não participando dos debates que promovíamos naquele momento. Em termo absolutos, não relativizando, o homem ordinário de Certeau que precisa da regra/ordem para se enquadrar estava nesse contexto falido, precisava se reinventar,
Assim, continuei a fala afirmando a triste marca atingida de 100 mil mortes por covid-19. Como professora, preciso me posicionar em como acredito ser necessária a continuidade da produção de conhecimento, inclusive nesse momento de incertezas, mas discordo da maneira com que muitas escolas têm se organizado na produção do conhecimento. Os professores continuam sendo condutores de informações que se acumulam sem muita serventia, só que agora via on-line.
Mantemos a velha crença de que a quantidade de conteúdo define o saber de um indivíduo, assim as pausas necessárias às reflexões sociais, culturais, políticas em sala de aula perdem a chance de ocorrerem, pois alunas e alunos ficam vidrados em memorizar tantas informações nos 300 minutos de aula.
Continuamos a ensinar uma racionalidade que não tem mais por que. As proposições universais iluministas herdada não têm mais espaço, a não ser dentro da escola que mantêm um currículo acrítico e informativo/acumulativo, segregador, etnocêntrico.
Acredito na produção de conhecimento mais flexível e que as alunas e alunos precisariam ser ensinados a competência da autonomia na busca e produção do conhecimento. Assim finalizei minha fala dizendo aquelas/es alunas/os: “Nossa realidade é de incertezas e para muitas famílias é o momento de muita dor, de muita tristeza então, enquanto professora de História, reflito o tempo todo a sociedade em que vivo tentando compreender as relações em que tod@s estão envolvid@s.
Prof. Lavini Castro

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