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Não há educação sem posicionamento político

  • Foto do escritor: lavinicastro
    lavinicastro
  • 8 de fev. de 2021
  • 5 min de leitura

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Não há educação sem posicionamento político. Nos tempos atuais podemos dizer: seja para a direita extremada ou para propostas emancipatórias nossas ações em prol da educação seguem interesses subjetivos e coletivos. De acordo com as perspectivas emancipatórias, pensar educação é entender sua importância como uma ponte para as possíveis conscientizações em prol de transformações em nome da justiça social, pois ao levar em consideração os estudos sobre as relações sociais e raciais evidenciamos desigualdades, discriminações, privilégios, ou seja, tornamo-nos conscientes dos problemas sociais que afligem grupos tidos como minorias.

Entendendo a historicidade do campo educacional compreendemos que a escola pode ser um lugar para tomada de consciência sócio racial ou lugar de manutenção dos valores hegemônicos. Levando em consideração em nome “do quê” e “de quem” ou “para quem” agimos, encaminhamos nossas intenções, interesses e comportamentos poderemos avançar ou não numa educação mais emancipatória. Chamamos de educação mais emancipatória aquela que promove a evidência positiva de grupos que até então tiveram suas histórias e culturas silenciadas ou marginalizadas na sociedade. Dessa forma, ao produzimos um projeto pedagógico, ou ao planejar uma aula, bem como as escolhas narrativas que fazemos no chão da escola demarcamos qual será nosso posicionamento político que será percebido em nossa prática pedagógica. Por isso a educação está afinada aos projetos políticos para nossa sociedade, cabendo o questionamento: como estamos formando as futuras gerações? Para propostas individualistas, conservadoras ou para propostas emancipatórias/antirracistas?

Essas simples perguntas nos levam a refletir sobre como os processos pedagógicos vem sendo desenvolvidos. Se o desenvolvimento de um projeto pedagógico é político, significa que está associado às escolhas que fazemos ao que evidenciamos e ao que silenciamos, nesse sentido podemos falar em historicidade do ensinar, ou seja, existe uma história sobre a maneira de como praticamos o ato de ensinar. Lembra daquela velha história contada pelos mais velhos: “no meu tempo não era assim que se aprendia, tinha que decorar” Já ouvi muito isso de pessoas que vão a reuniões de responsáveis e compartilham suas experiências quando eram alun@s.

O ato de ensinar é histórico sofre mudanças ao longo do tempo, nesse caso, precisamos contextualizá-lo para entender a dinâmica do que tem sido aprendido. Um detalhe interessante da atualidade, com o caça às bruxas escolar da galera ultra-conservadora é a demarcação de denuncias sobre o que os professores estão ensinando em sala de aula. Denúncias partidas de perspectivas religiosas e político partidárias conservadoras que tentam, de maneira autoritária, manter suas narrativas, visões de mundo e com o objetivo de manter seu poder.

Notícias de possíveis doutrinações nas aulas são as novidades da agenda conservadora, assim como os pedidos das autoridades para que alunos venham a gravar as aulas com o intuito de conduzir processos contra os professores são novos obstáculos ao ensino mais emancipador. Professores afirmam estar receosos de tratar sobre determinados assuntos tabus para não correrem o risco de ter problemas. Conteúdos que evidenciam injustiças, discriminações, racismos, enfim, conteúdos que até estão estabelecidos em currículos prescritos, mas não adentram o espaço da sala de aula, conforme nos disse Libâneo (2012) sobre o que se quer que aconteça na sala de aula e o que, de fato, ocorre, ou seja, nem sempre o que está estabelecido como parâmetros, ou leis, adentram o chão da escola como deveriam entrar. Mas o que está faltando?

Podemos levantar a hipótese de que os profissionais da educação estão cada vez mais rasos em suas falas e explicações, ficando em cima do muro para não terem problemas com os defensores do conservadorismo social político e cultural, ou por fazem parte dele mantém um comportamento de não incluir novas abordagens em prol da emancipação do conhecimento escolar, de uma forma ou de outra, tais condutas mantem o discurso hegemônico dominador.

Contudo nossos alunos e alunas estão cada vez mais conscientes dos problemas sociais e muitos questionam e denunciam tais questões. Muitas vezes novos conhecimentos são adquiridos de maneira informal, não grupos de estudos, nos espaços de militância, em reuniões sociais, agora com as lives do produtores de conteúdo das redes. Mas a escola tem ficado um tanto engessada nesse caminho. Geralmente, as ações em prol de um ensino mais diverso e emancipatório acaba sendo a ação individual de professores que se identificam com a causa e não uma ação conjunta dos profissionais do sistema educacional nacional para na tentativa de superação das injustiças – não que a educação deve resolver tais injustição, mas pode ser um instrumento de discussão e reflexão na formação de sujeitos que virão a ser atores de novas configurações sociais e que agindo em sociedade podem promover novas ações mais inclusivas.

De acordo com GOMES (2019) a educação é uma tecnologia que abre espaço para pensarmos novas ou velhas políticas vai depender das escolhas que fazemos, é uma tecnologia que auxilia na construção de identidades, bem como nas maneiras de se fazer economia e cultura daí o interesse do estado em burocratizar regras desse campo de saber.

Através da dominação da atividade educativa o Estado pode organizar uma perspectiva universalista que ao mesmo tempo segregava grupos que não estivessem afinados a história e cultura escolhidos como idealização do grupo social dominante.

A história do ensinar numa perspectiva universal já vinha se definindo desde o século XVIII a partir das propostas iluministas (GOMES, 2019). O Iluminismo trouxe a promessa de emancipação individual dentro de uma norma racional e universal, assim surgiu necessidade de se instrumentalizar a forma de passar o conhecimento racional. Tal perspectiva de dominação do Estado, sobre a educação, tinha o objetivo de disciplinar os seres humanos na tentativa de modelar as subjetividades para as propostas universais de sujeito. Entretanto para se chegar a uma proposta universal as diversidades sofram sendo suprimidas. Nesse sentido algumas histórias e elementos culturais foram beneficiados e privilegiados enquanto outros foram silenciados, marginalizados ou em vias de apagamento histórico. Mas a verdade foi produzida regulamentando os status quo universal social, político, cultural, racial e econômico. O conhecimento passou a ser construído através de representações verdadeiras, a verdade sobre os conteúdos, a verdade sobre as identidades e isso acabava organizando conhecimento de uma maneira fechada também hierárquica, linear e evolutiva (GOMES, 2019).

Bem interessante observar o quanto ainda trazemos narrativas hierárquicas, lineares e evolutivas a respeito do ensino de História, por exemplo: o projeto de colonização europeu como necessário a evolução da América, ou as histórias de revoluções que narram superações seja no campo político (revolução francesa) seja no campo econômico (revolução industrial).

O conhecimento escolar é político, pois a escola é uma instituição por onde ocorrem as relações de poder, basta compreendermos as injustiças causadas, que ainda permeiam nossos pensamentos para que possamos avançar numa educação mais inclusiva.


GOMES, Gustavo Manoel da Silva. SABERES E NARRATIVAS DOCENTES: MEMÓRIAS E EXPERIÊNCIAS DO ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO SERTÃO ALAGOANO. Maceió-AL. 2020. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Alagoas.


 
 
 

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