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Respeita minha história! Ainda precisamos falar da meritocracia

  • Foto do escritor: lavinicastro
    lavinicastro
  • 23 de out. de 2020
  • 3 min de leitura

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É possível compatibiliza a desigualdade racial com base em ideologias universalistas? Para aqueles que defendem a meritocracia sim. Pois nessa perspectivas todas as pessoas teriam iguais condições de se organizar em sociedade para definirem seus espaços, nesse sentido as escolhas individuais das pessoas nada teria a ver com a situação socioeconômica na qual está submetida. Ou seja, pessoas negras são apenas afetadas por suas escolhas e não por sua condição socioeconômica e por sua condição racial, aqueles que reclamam do racismo estão de mimimi se vitimizando na sociedade, pois todos são iguais.

Perceba o quanto essa afirmativa é racista, e parte de um entendimento universalista, de que todos são iguais, como nos explica Almeida essa seria uma justificativa pautada na neutralidade e igualdade formal (ALMEIDA, 2019, pg. 81)

Tal visão de mundo faz parte dos discursos da meritocracia. Observe o quanto a meritocracia nos paraliza em questionar os problemas sociais, pois coloca a culpa dos problemas enfrentadas pelas pessoas nelas mesmas. Almeida (2019) citando Wallerstein apresenta a meritocracia como economicamente eficaz, pois estabiliza a política.

De acordo com Sidney Chalhoub:

“A meritocracia como valor universal, fora das condições sociais e históricas que marcam a sociedade brasileira, é um mito que serve à reprodução eterna das desigualdades sociais e raciais que caracterizam a nossa sociedade. Portanto, a meritocracia é um mito que precisa ser combatido tanto na teoria quanto na prática. Não existe nada que justifique essa meritocracia darwinista, que é a lei da sobrevivência do mais forte e que promove constantemente a exclusão de setores da sociedade brasileira. Isso não pode continuar”.

Para as pessoas negras devemos somar à meritocracia o racismo historicamente construído, pois essas duas ideologias permitem justificar a desigualdade racial, vivenciada pela pobreza e exclusões como falta de mérito do indivíduos negros.

Mas, observe, não devemos confundir mérito com meritocracia. A meritocracia parte do pressuposto de que as posições hierárquicas são conquistadas, em tese, com base no merecimento, e há uma predominância de valores associados à educação e à competência. Logo todos os grupos não teriam diferenças sociais e raciais impostas por olhares construídos com base em representatividades e todos seriam iguais nessa conjuntura. Como não há meritocracia, pois há entraves sociais demarcadores das condições individuais de muitos sujeitos precisa-se acionar políticas públicas de reparação, entretando, nada impede que um indivíduo ao conquistar algo não possa sentir orgulho dessa empreitada e observe seu merecimento e valor, ou seja seu mérito.

A partir do momento em que temos como prerrogativa uma mesma classe social, de uma mesma raça usufruindo historicamente dos setores de poder e liderança econômica já se fala em cotas, nesse caso para os grupos brancos. O inverso seria promover ações afirmativas como mecanismo de reparação e promoção de justiça social. se voltarmos nosso olhar de forma crítica para os espaços de poder e lideranças veremos que tais espaços são ocupados pelo mesmo grupo racial há tempos, por isso a importância de se questionar a meritocracia que está imbricada em valores abstratos universais justificados numa aptidão comum a todos e todas. Nesse sentido não haveria obstáculos socioeconômicos impeditivos, apenas uma condição natural universal a todos e todas para organizarem suas trajetórias de vida, ou seja a meritocracia parte de uma definição abstrata que exclui os entraves sociais e materiais da vida das pessoas.

Mas você deve estar se perguntando: como alterar a realidade com escolas sucateadas, poucas vagas universitárias, pessoas que concomitantemente estudam e trabalham, visto que de algum modo tais condições prejudicariam a realidade material desses sujeitos. Nossos alunos e alunas das escolas pública e algumas realidades de escolas particulares de periferia ou interior, fora das grandes redes e colégios “de classe média” sentem alguns desses entraves que acarretam em desmotivação, desinteresse, ou mesmo sem acessos acabam não formando um capital simbólico inerente ao que se convencionou ser aceito na vida acadêmica. Sendo para esses grupos a necessidade de uma desenvoltura muito mais complexa do seu caminhar por determinados espaços sociais.

Portanto a ideia da meritocracia como valor universal, que omite as condições sociais e históricas que marcam as desigualdades sociais e raciais é um mito que serve apenas para manter privilégios de um determinado grupo racial.

Referências

https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2017/06/07/meritocracia-e-um-mito-que-alimenta-desigualdades-diz-sidney-chalhoub

 
 
 

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