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Revendo nossas atitudes em prol da educação antirracista

  • Foto do escritor: lavinicastro
    lavinicastro
  • 3 de out. de 2020
  • 6 min de leitura

Nós professoras e professores precisamos entender nossa autonomia e criatividade

Somos desafiados a cada dia a educar para a formação de um cidadão crítico, mas trabalhamos diante uma proposta curricular conservadora, conteudista, pautada na história única de versão Europeia, o que chamamos de conteúdo etnocêntrico, que não representa a diversidade de nossa sociedade. Muit@s de nós, professoras e professores não toma consciência disso, entretanto muit@s de nós já percebeu que os currículos não são neutros, nessa conjuntura nem podem ser precisam tomar um caráter político em prol das minorias – que são maiorias sociais. Uma boa parcela d@s profissionais se inquieta com essa estrutura patriarcal, racista, imperialista, neoliberal que tenta impedir nosso sonho de transgressão dentro do espaço escolar.

Essa reflexão é pra tod@s nós professor@s que desejamos promover uma educação antirracista, pra todas e todos que não se cansam de agir, de sentir de aprender, numa perspectiva multicultural, crítica, criativa e inclusiva no mundo marcado por desigualdades, injustiças sociais, étnicas e culturais.

De acordo com Azoilda Loretto Trindade (2013) “qualquer caminho trilhado no sentido de lidar com as diferenças no cotidiano educacional não é neutro nem ideal”, nesse sentido, é muito importante que possamos entender a complexidade das relações raciais, de como devemos lidar com as diversidades, e diferentes visões de mundo porque todos estão marcados por suas visões e valores, não sendo adequado que uma concepção, um olhar, uma ideia que seja ideal para um grupo e que se coloca como universal, por conta da história de dominação e hierarquização das raças tenha a pretensão de explicar, narrar ou justificar modelos ou padrões para toda uma diversidade de povos no mundo.

Diante dessa constatação, a mudança de paradigmas requer, conforme nos conta Enrique Dussel, a superação dos valores da modernidade e para isso o autor promove o conceito de transmodernidade num sentido de ir além da modernidade eurocêntrica. Seria um projeto que defende um processo de decolonização. Tendo em vista, por um lado, o sucesso do projeto colonizador ocidental de genocídios e epistemicídios, por outro, a resistências dos grupos dominados mostra também o fracasso desse projeto. Muito embora o colonizador impusesse suas condições, no intimo de cada sujeito a elaboração das regras só ao indivíduo dizia respeito, mesmo que precisasse demonstrar obediência social, em seu íntimo poderia estar ocorrendo a resistência, conforme nos ensinou Certeau ao explicar o homem ordinário (1989).

Foram 500 anos de colonização do saber, as culturas estão envolvidas nos valores da modernidade, de acordo com Grosfoguel (2016), nesse sentido tudo foi afetado pela modernidade eurocêntrica e “muitos aspectos do eurocentrismo foram engessados nessas novas epistemologias” (Grosfoguel, 2016, pág 44), nesse caso como encontrar uma saída? Encontrar na diversidade cultural, não ocidentais ou não ocidentalizadas a compreensão de suas organizações em prol de um equilíbrio social.

A diversidade nos inquieta e nos promove dúvidas incertezas. Cada existência tem o seu valor. Voltando o olhar para o cenário do chão da escola, devemos pensar qual deve ser a concepção teórica ou prática de se trabalhar com a diversidade na sala de aula, como trabalhar as diferentes concepções de mundo no cotidiano escolar. De acordo com Trindade (2013) qualquer concepção teórica ou prática será passível de crítica, de análise de necessidades, de acertos, de ajustes porque cada realidade tem suas especificidades.

Contudo se acreditarmos que a diferença é a regra precisamos perceber, conhecer e interagir com essa diferença porque todos nós somos diferentes uns dos outros, mas a ideologia racista tentou inserir em nossos pensamentos um padrão, um modelo ideal que causou muitos problemas, principalmente, psicológicos nas “minorias” não brancas.

A escola tem um grande desafio pela frente, um desafio menos conceitual mais prático que dependerá do meu interesse em querer vivenciar a convivência harmônica com a diversidade, será por meio da escolha como atitude política de querer viver numa sociedade mais justa. Tal postura nos colocará frente a frente com a diversidade, com os nossos dilemas, com os nossos preconceitos, racismo, machismo e elitismo. De acordo com Grada Kilomba, o OUTRO só é o OUTRO por que o EU (EGO) se coloca como ideal, para a autora o sujeito branco racista esconde na sombra toda a realidade de sua agressividade projetando no sujeito negro tal agressividade, justamente para se esconder de si mesmo.

Nós professor@s precisamos saber trabalhar com a concepção da existência da diferença. Como um/a professor/a, em sala de aula, pode trabalhar a percepção da existência da diferença? Quando consegue El@ própri@ rever seus próprios valores, posições e preconceitos, precisamos admitir nossa sombra para nos sensibilizar com os demais

@s professor@s precisam se colocar no lugar de observador e ouvinte, Trindade (2013) apresenta como exemplo a existência de uma pessoa com deficiência, em que se criar uma ideia de “(des)valor” seria preciso enxergar valor uma pessoa com deficiência não deve ser vista como coitada e sim com força e potência porque é expressão da vida humana, não são vítimas de um castigo não representam a infelicidade. Precisamos mudar o referencial e desconstruir grandes verdades. Outros pontos importantes citados pela autora seriam: perceber a sabedoria das populações indígenas, nos desconectar com a tendência de naturalizar um lugar do negro enquanto escravo e abandonar visões expressões elitistas naturalizadas das hierarquias trabalhistas, mas manter nossas consciências críticas diante injustiças, porém não convém realçar expressões como as do tipo: manda quem pode obedece quem tem juízo, pois são carregadas de uma percepção de domínio e hierarquia.

Nosso grande desafio é começar e não parar mais, e optar por não nos silenciarmos diante de qualquer discriminação e injustiça social e cultural de qualquer espécie – não vamos mais “passar pano” para o racismo!

Então o simples ato de valorizar a sabedoria de vida de uma pessoa analfabeta e um ato de resistir ao saber que é imposto como universal, porque a história da alfabetização em massa ainda é um fenômeno muito recente na história da humanidade. Entretanto, valorizar tal saber, não significa concordar com a desigualdade na educação.

Assim noss@s alun@s entenderão que tod@s têm um saber a ser compartilhado dentro da escola. Por outro lado, a escola não será vista como único lugar de desenvolvimento e formação, pois entenderemos que o saber não é exclusivamente científico e que há uma sabedoria popular que lhe própria. Pensar dessa forma nos torna mais humanos enxergamos naquele diferente de nós uma potência narrativa cultural e histórica.

Aceitar a diversidade coloca a escola no lugar de questionamento quanto ao seu papel de mantenedora de narrativas elitistas e estereotipadas dentro de uma visão unilateral. Faz-nos pensar que o currículo precisa se reconfigurar. Contudo talvez, não saibamos o caminho a seguir, muitas vezes seguiremos sozinhos em aulas que versem conteúdos da diversidade. Como deverá ser nossa postura? O que defender e como defender? Tais escolhas políticas mexerão com o nosso individualismo, com nossos julgamentos em relação aquel@s diferentes de nós, isso vai fazer você olhar para suas boas intenções!

Não pense que trabalhar diversidade é colocar um mural bonito na escola, ou festejar o dia do “Índio”, ou o dia da Consciência Negra, bem como debater política de cotas, ou colocar uma Virgem Maria Negra como padroeira do Brasil - esses são todos exemplos trazidos por Trindade (2013), se essa ação ao for carregada de mudança individual em nos vigiarmos a nós mesmos diante o racismo brasileiro muito mais escamoteado e inconsciente.

Muit@s de nós professor@s já faz um trabalho solitário que vem dando um excelente resultado, podemos nos basear nas experiências alheias inclusive, mas não devemos copiar o trabalho dos nossos colegas em nossas escolas com realidades completamente. Trabalhar com a diversidade requer postura política de estudos ressignificados e críticos do contexto atual. Tod@s nós somos autor@s desse processo que deve ocorrer de forma coletiva com toda comunidade escolar. Trindade (2013) nos apresenta algumas palavras ações básicas que nos ajudam a nos fortalecer nesse processo são elas: autonomia, o diálogo, o movimento e o contato. Utilizar a autonomia é fundamental, porque tod@s nós somos responsáveis pela transgressão escolar, não precisamos depender que alguém comece a lançar a semente, nós precisamos acreditar em nós mesmo enquanto autoridade de cátedra para atuar no chão da escola, para buscar conhecimento, para mudar nossa postura, narrativas e planejamento de aulas essa mudança de comportamento deve e pode ser compartilhada com outros colegas professor@s e alun@s, com a diversidade do diálogos chegamos a diferentes soluções e ideias novas, todo esse comportamento gerado pela autonomia e o diálogos gera um novo movimento interno em si e pode ser espelho aos demais por isso ter contato com a diversidade é fundamental.

Pense nisso! Estude,Crie e Trabalhe em Rede!

Eu sou Lavini Castro Educadora Antirracista

Mestre em Relações Étnico Raciais


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Referência

Africanidades brasileiras e educação [livro eletrônico] : Salto para o Futuro / Organização Azoilda Loretto Trindade. Rio de Janeiro : ACERP ; Brasília : TV Escola, 2013.

 
 
 

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